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26 de agosto de 2011

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Dois pedaços de dor
A rumar ao meu destino
Cavaleiros do apocalipse
Cocainómanos em vestes
Douradas e carmesim
Uma tempestade aconchegante
Que se rói por dentro
Aos rumores bárbaros
Das vicissitudes do alheio
As ameaças de morte
Sussurradas pelo vento
Cantigas de embalar
A um coveiro por obrigação
Marinheiro de sepulturas
Recortadas nas ondas
Do mais puro silêncio
Deitadas no peito
De uma puta qualquer

Tenho segredos que não
Quero contar a ninguém
Medos que se arrependem
De ser criados e que no entanto
Se espalham pelos vales
Duma chávena de café

Ruindade feita gente
Carregas as válvulas
De libidos renascentes
Como se de engrenagens
Uivasse um louco ao céu
Repetindo a sua lucidez
Às páginas duma bexiga
Insuflada em ego e cerveja
Bafo quente a paixão
Amargurada e flácida

Triste sou pouco
Recriado em trastes
De sorrisos escancarados
Às mais belas faces e
Aos mais sedosos cabelos
Grilhões dum apaixonado
De valetas e dramas

24 de agosto de 2011

Brilhantina


Cabelo reluzente de brilhantina
Liberto-me casa com um andar
Como se o cérebro estivesse a segregar
Um ácido com demasiada estricnina

Todo eu sou estranheza
Mas um tipo de defeito vulgar
Dando de caras com uma pobreza
De vontades, de gostos e de amar

Escondido por baixo do pompadour
Murmurando a chanson du jour
Espreito através dos óculos
Mandando às meninas ósculos

Faço-o por falta de latim
Ou para ser uma bizarra peça
Que vontade de falar não há em mim
Quando realmente me interessa

Pavoneio uma falsa confiança
Talvez pelo facto de usar laca
Ou por ter a esperança
De me poder defender à faca

E lidar com as mudanças de humor
Desta condição de bipolar by proxy
Experimento ser eu com ardor
Mas mando tiradas como “God, you’re foxy”

Cliché, meu bem, nada mais
Não há em mim um pedaço original
Caio na sarjeta com os demais
Os meio-artistas deste mundo animal

Não me olhes em desdém
O meu final dramático já ali vem
Hei-de arder em burrice
E nada de funerais, já disse

7 de agosto de 2011

Saudades de quem não tenho

Saudades de quem não tenho
Ninguém me diz coisa nenhuma
Saudades de quem não tenho
Não há em mim palavra saudade
Saudades de quem não tenho
Tenho, teria outrora saudades
Saudades de quem não tenho
Em muitos amores saldadas
Saudades de quem não tenho
São coisas de um passado
Saudades de quem não tenho
De alguém que me afoga em
Saudades de quem não tenho
Sinto falta de te ter minha
Saudades de quem não tenho
Queria ter quem não se me dá
Saudades de quem não tenho
Todo eu sou saudades por
Saudades de quem não tenho

Lágrimas Sonoras