Há dias que quero separar-me dos meus olhos
Desligar-me das mãos e deixar de ouvir
Há dias em que quero arrancar a virilidade
E dias em que mais valia engolir a língua
Pois nada me vale para ser corajoso
Ou bravo o suficiente para rasgar amor
Do tecido da fragilidade feminina
Se não te doem os poemas
Que cobardemente te insinuo
Não tenho forma alguma de te mostrar
O pequeno ser que habita esta grande tenda de circo
Que eu maquilho com laivos de malvadez
Desejo por dias a fim que me venhas ver
Aqui sentado, diminuto e a tremer
Que me beijes e digas que de mim precisas
E vês-me crescer, a abraçar-te e por ti morrer
Mas até lá brinco com palavras
Com desejos e com estúpidas inseguranças
Que me separam dos olhos,
Que me desligam das mãos e me fazem deixar de ouvir
Que me arrancam a virilidade
E que me engolem a língua
Sou um homem apaixonado pelo seu próprio medo
Um escombro do apogeu de um amante
A quem Deus não escuta e os anjos renegaram
Que seu grande pecado foi não dar graças
Pela loucura servida a ferros num prato de drogas
E que o amor desdenha da minha existência
Se um dia me perceberes, peço-te que mo digas
Que me arranques lágrimas da cara porque
Há dias em que sei que aquilo que sinto
Não cabe no espectro de mais ninguém
E há dias em que estou farto de viver assim